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A IMPORTÂNCIA DO TÍTULO DA UNESCO PARA BRASÍLIA

16BsbPrideDesastres naturais e conflitos armados como as duas grandes Guerras Mundiais infligiram grandes perdas para a história humanidade. Vocês já pensaram se as tropas alemãs tivessem destruído todos os prédios de Paris? O que restaria para a nossa geração conhecer sobre o passado e a cultura francesa? Seria uma perda para o mundo! Mas não são apenas os conflitos armados e os desastres naturais que ameaçam os bens culturais e ambientais. A ação humana (por ignorância, ganância ou má-fé) também pode representar um grande risco para patrimônios históricos.

Um bem é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade por ter atributos singulares e valiosos para o mundo. Quando um bem, cultural ou ambiental, entra na lista do patrimônio da UNESCO, além da honra em figurar como contribuição cultural mundialmente reconhecida, o país pode contar com recursos internacionais para conservá-lo. Contudo, se os seus atributos estiverem em risco ele é incluído na Lista de Patrimônios Mundiais em Perigo e recebe atenção especial da UNESCO, a qual conta com 190 países signatários, ou seja, que assinaram um acordo internacional firmando o compromisso para proteger os bens declarados.

Há exatos 28 anos Brasília recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, no dia 07 de Dezembro de 1987. Nesse dia o Brasil conseguiu uma grande façanha pois alterou de forma inédita os parâmetros de avaliação da UNESCO, a qual até então concedia tal título somente para bens com mais de um século de existência, ou seja, monumentos do passado! Contudo, Brasília foi o primeiro bem cultural contemporâneo a entrar nessa lista, figurando no mesmo patamar de importância das Pirâmides do Egito, Grande muralha da China, Acrópole de Atenas (Grécia), Centro Histórico de Roma (Itália), Palácio e Parque de Versalhes (França), entre outros ícones da presença humana no planeta.

A capital do Brasil foi aceita na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO devido ao reconhecimento de sua história de construção singular – erguida em apenas mil dias a partir do esforço de toda a nação para ser a capital de um país – por seu urbanismo inovador e arquitetura arrojada, marcos do movimento moderno e de um momento histórico único e marcante. Ou vocês acham que os projetos de Niemeyer e as estruturas de Joaquim Cardoso podiam ser construídas por qualquer um nos anos cinquenta? E implantar uma cidade inteira aplicando os ideários modernistas em larga escala (setorização, separação do tráfego de veículos e circulação de pedestres, pilotis, predomínio das áreas públicas)? Provavelmente é algo que jamais se repetirá.

Para qualquer engenheiro ou arquiteto, morar em Brasília é um privilégio e estudantes do país e do mundo frequentemente vêm verificar de perto o que é esse experimento urbanístico. Além da configuração urbana única, entre as características mais relevantes da arquitetura monumental de Brasília podem ser citados o arrojo arquitetônico, a rapidez e qualidade dos projetos e da execução, o emprego intensivo do concreto aparente, o pioneirismo das estruturas pré-moldadas de grande porte em concreto armado protendido (UnB, Plataforma Rodoviária, entre outros) e grandes painéis revestidos em mármore.

É preciso conhecer e valorizar Brasília, essa cidade que não é apenas dos brasilienses, mas de todos os brasileiros e que é referência mundial de um registro histórico. Receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade foi o fato mais importante para Brasília desde a sua fundação. Entretanto, mesmo que passados 27 anos, esse título ainda precisa ser entendido, reconhecido e valorizado pelos brasilienses e brasileiros, principalmente os gestores públicos e classe política. O título não pode ser vulgarizado e tratado como algo que não trará nenhum benefício ou malefício caso seja retirado!15BsbPride2

Caso a descaracterização de Brasília avance e se agrave, por omissão ou irresponsabilidade do Estado brasileiro, a cidade pode entrar na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo e, em seguida, ser retirada da Lista de Patrimônios Mundiais, perdendo o título que conquistou em 1987. Isso seria, no mínimo, um vexame internacional e traria grandes prejuízos ao turismo e à imagem do país perante a comunidade internacional. Aliás, nesse aspecto vale lembrar que as potencialidades turísticas de Brasília são tão mal geridas e exploradas que a maioria dos turistas vem à capital somente para visitar familiares, o que é é um dos bons exemplos dos problemas de gestão de nossa cidade.

Faz-se necessário que o Governo do Distrito Federal implante uma política efetiva e contínua de Educação Patrimonial, que não se restrinja apenas a incluir o tema no conteúdo disciplinar dos alunos da Rede Pública, mas também trate da formação de multiplicadores dentro e fora da estrutura governamental. Além disso, é essencial que seja criado um órgão específico de gestão para a área tombada de Brasília, composto por técnicos de áreas afetas a conservação e preservação, com estrutura adequada e recursos econômicos prioritários. A preservação e o desenvolvimento responsável de Brasília depende de um olhar técnico, cauteloso, atento e, principalmente, isento de pressões políticas, de maneira a continuarmos tendo o privilégio de ser um Patrimônio Cultural da Humanidade, motivo de orgulho para sua população.

Leiliane Rebouças é bacharel em Relações Internacionais e membro do Urbanistas por Brasília

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